terça-feira, 2 de maio de 2017

"Quem quer atrair os cantos dos passarinhos não faz xó”

"Quem quer atrair os cantos dos passarinhos não faz xó”

Será que apenas o fato de dar nome aos bois faz eles mugirem? Até parece que dessecar um conceito da psicanálise faria o conceito falar e desvelar sua verdade. Mas ele não aparece de forma própria na formalidade geográfica, e não se dita da boca para fora; a página, o livro e a época de sua nomeação achando que é capaz de saber as coisas. Seria a contextualização do conceito capaz de ser apropriado pela fala de quem quer falar dos fundamentos da psicanálise. E como será que nasce um conceito em psicanálise?

Parece que nasce da boca do analista, no caso bem nomeado, da boca de Freud. O que será que Freud escutou que deu para nós nomes e conceitos, o que fez sua escuta bem dizer o conceito, que é tão caro e querido na transmissão da psicanálise? O que um analista escuta na análise que faz pulsionar a própria voz; se pulsionar a seu silêncio, se pá num ato, e porque não pulsionar uma interpretação e a construção em análise.  O que Freud quis dizer ao fazer furo no real com algo da ordem do pulsional?

 Pensando a questão do conceito em psicanálise retomei uma pergunta, que até o momento desconfio que vai me carregar uma vida; a questão do que se escuta numa análise. Não foi ao acaso que na minha repetida leitura do seminário onze; Os quatros conceitos fundamentais da psicanálise, algo novo me pegou. Uma surpresa que quer desvirginar um significante, precisamente na fala de Lacan intitulada; A presença do analista, ele abre sua fala com a frase que se encontra numa caixinha de fósforo: “A arte de escutar equivale quase à de bem dizer” (p.123). Há aqui uma passagem de uma arte para outra, e também o seu retorno. Para nomear há de se escutar, para quem sabe outro nome isso pode dá, afinando os fonemas e até as vistas. De bem dizer a leitura muda, a o que Alain Didier-Weill aponta como a arte da tirada espirituosa que dá vida a palavra morta.

Ao propor questionar o que seriam os conceitos fundamentais da práxis da psicanálise, Lacan nomeia quatro como fundantes. Quatro que giram e escutam a transmissão da psicanálise, que fazerem parte dos bens do psicanalista, se acaso bem dizer deles. Lacan questiona os conceitos para que os fundamentos não entrem em um fundamentalismo, assim o que torna algo teórico é a capacidade de reinventar sua prática. A nomeação desse quatros são a saber; inconsciente, repetição, transferência e pulsão. Mas o que se sabe deles?

O primeiro com o tempo da psicanálise na cultura virou quase sinônimo de Freud. O inconsciente é diretamente ligado à psicanálise, mas um nome que existia antes da descoberta freudiana pode ser facilmente transformado em dados fora do acampamento freudiano. Lacan chega a diferenciar o inconsciente de Freud, até onde esse conceito se fez da clínica e da psicanálise, ao o que Lacan chamou de “nosso inconsciente”; o dito estruturado como uma linguagem. Com tempo cronológico de repetir essa máxima, também algo se perdeu da potência clínica da sua elaboração teórica. O que querem, os lacanianos dizer quando se dita inconsciente estruturado como uma linguagem, muitas vezes, padecem da experiência de falar em análise. De escorrer a cadeia de significantes, fazem ditadura do conceito como se fosse possível evitar o tropeço. Felizmente a experiência da análise faz o analista se mancar, para quem sabe, andar de novo sobre o apoio dos tropeços.

O segundo conceito, o de repetição, é mais uma surpresa da leitura estilosa de Lacan sobre a obra freudiana. Parece que se jurava que viria o recalque, mas na suspensão do material recalcado do que fizeram da teoria psicanalítica, Lacan nos revela o poder da repetição em análise. Um nome que também há fora do campo psicanalítico, mas não impediu Freud de revelar sua importância na experiência da escuta do sintoma do falasser. Quem fala já não está mais engolido pelo eterno retorno da religião de Gaia, como se fosse possível pôr a culpa num instinto (- Não fui eu quem matou o outro; foi o meu veneno, ou minhas garras, ou meus caninos afiados).

Quem fala tem na falta uma responsabilidade a repetir, se encontrar a repetir pelas palavras que se apropriam do faltoso ser. Do recordar, repetir, elaborar até a compulsão a repetição, contorno do não realizável. Repetir a falar de como se dá conta deste real, que parece que não dá para ninguém, pelo menos não de frente. Um real que se dá nas voltas, como aquilo que retorna ao mesmo lugar.

Sobre a transferência até um tempo recente achava que era um nome só da psicanálise, talvez acreditava que só com ela se fazia transferência. Seria uma doce ilusão histérica de querer desejar o desejo do pai Freud. Se sabe que na experiência a transmissão da escuta vai além de Freud; se Freud deu a escutar o gregos, quem sou eu para não ficar de quatro com Sócrates, se entregar ao banquete-bacanal sobre o amor carnal-dá-alma?

Numa pequena anedota clínica, na primeira entrevista preliminar, uma potencial analisante, que nunca ouvira falar em psicanálise, questiona a forma de pagamento. Quando pergunto como ela gostaria de me pagar, ela responde rapidamente: “Quero pagar por transferência.” Me peguei aos risos, pois nesse momento percebi que há também a transferência bancaria, portanto ela estava certa. Ela sabia sem saber que sabia, que só há pagamento válido se houver transferência. Na cultura há vários momentos transferências, mas o acolhimento dela na psicanálise marca diferenças.

Diferente de um banco, a psicanálise não trabalha com a alta do dólar, pois o acolhimento em psicanálise não se trata em dólar o sofrer, e muito menos em meter a colher onde não é chamado. Agradeço já aqui a escuta de um querido amigo, ao mostrar a questão da letra, na ainda mal dita palavra acolhimento, (a) negação de colher. Por isso, para bendizer o acolhimento, parto do método curioso de Freud, numa busca de ser freudiano, recolho a origem etimológica da palavra. No dicionário Lexikon de etimologia acolher é um verbo com o sentido de dar acolhida a, hospedar, recolher, de origem do latim accolligere. O dicionário morre ai, mas o que a origem do latim esconde foi necessário outra busca; accolligere deriva da palavra em latim colligere (Coletar, montar, trazer; obter, adquirir, montar, acumular). Colligere por sua vez deriva de outra palavra latina legere (Ler; coletar e reunir). Como se não fosse suficiente, legere do latim deriva do grego legein que é o verbo falar, que tem sua raiz leg- na língua indo-europeia; que é tanto prefixo para falar quanto para colher, colher a falar.

No acolhimento se trata de colher a fala, os sintomas, os efeitos dela no corpo, suas falhas e os nomes. Acolher implica até uma forma de receber e ler aquilo que se coleta da fala do sujeito, que se contorna por outras nomeações causadas pelos efeitos da escuta do desejo.

Admito um susto diante da leitura dos textos de Freud; que persistem em me causar efeitos de surpresa e sideração, que causa efeitos de mais ainda, paradoxalmente quando acho que não dou conta...quero mais. Na inicial leitura de Psicopatologia da Vida Cotidiana, me peguei atento ao fato que Freud decide fazer um livro com coletas de atos falhos e lapsos, ele as coleciona fora dos seus atendimentos clínicos. Uma persistência de Freud em escutar o inconsciente e principalmente de receber aqueles que querem lhe contar o que esqueceram, mesmo que seja fora do set analítico.

Freud sabe tocar o instrumento que se propôs a inventar, principalmente porque no exercício da escuta psicanalítica ele toca e é tocado por ela. Tanto que se propõe, em plenas férias de verão da sua clínica, ajudar um jovem rapaz a retomar o porquê do esquecimento de um pronome em latim; aliquis. Sua única exigência é que fale sinceramente e sem nenhuma crítica tudo que ocorrer sobre a palavra esquecida. No desenrolar da própria interpretação do jovem esquecido, ele liga a palavra estrangeira com texto de Santo Agostinho sobre as mulheres – em seguida ao São Januário – para retomar o ritual do milagre impaciente de assistir o sangue do santo se liquefazer – até pensar, para em seguida dizer, sobre a preocupação com a dama em que teve relação sexual e na possibilidade do sangue que ainda não liquefez. Esqueceu para ver se não nascia algo da ordem do inesperado.

Mas para chegar a este ponto, Freud se coloca no lugar de espera da associação do jovem, que insiste em querer fazer parte da coleção e investigação freudiana. Freud chega a propor que se for difícil falar, não precisa ser naquele momento. Pois é impossível forçar a falar, mas quem sabe questionar. Como pedir um tempo, num até então simples conversa com um conhecido companheiro de viajem, um tempo para se abrir e para colher o que conseguir falar. Faz até a viajem passar por outro lugar. E Freud não estava de férias de verão!? Que força constante é essa que não para de colocar Freud a investigar o inconsciente e acolher a fala?!

Parece que esse lugar do analista é invocado, independente do horário e das férias, com um lugar privilegiado quando é dado pela fala do analisante no set de análise. Até o momento os conceitos de inconsciente, repetição e transferência, apesar dos nomes estarem na cultura como outra coisa, é de Outra coisa que se utiliza deles na análise, outra cena além das encenações do cotidiano. Algo que pulsa o ouvido a escutar, mexer a boca, para quem sabe o suposto sujeito obtenha fala. Por falar em outra cena, que obsceno conceito é a pulsão, sempre me fez questão essa nomeação. Que diabos de nome é esse Trieb! De que tribo Freud o invocou para falar do que escuta e vê, caga e fala, é vida e é morte.

Conceito que parte de uma experiência clínica; clínica porque advém de uma modernidade que acredita em um espaço que hospeda o sofrer, que acolhe os acudidos de algum sofrimento, e experiência porque o desvelar do sofrer mostra outros espaços para além da hospedagem dos abatidos. Muitos abatidos de um mal entendido, que achavam que a dor física não teria metas e linguagem. Como se o corpo não estivesse metido na própria língua que o fala, o corpo se torna alvo e fonte desses ditos de um tempo pragmático.

Tais corpos tomam formas submetidas a um saber dominado pelo poder hospitalar. Como bem alerta Foucault no livro O Nascimento da Clínica; a medicina surge para afundar o sofrer sob uma linguagem especifica e apenas falada por aqueles que dominam o grego e o latim, assim não permitiria o acesso da experiência de cura para o doente, lhe era impossível nomear com sua própria língua o que sentia.

Antes da fundação do saber médico, se hospedavam os viajantes, sujeitos de outras doença e outros nomes, que no processo de cura e acolhimento da hospedagem podiam dizer pelo que passaram. Assim estavam presentes para acolher os de fora, outros estrangeiros do próprio corpo, que consequentemente com o tempo, saberiam dizer do que sabiam.

Quando algo nasce, como o conceito de pulsão, há de que nomear isso, com certeza não para domar, mas para passar um dom da experiência de escutar, dom porque não se ganha sem doar da própria carne. E como Freud sacou o nome pulsão do bolso, parece que ele foi abatido por tal conceito na sua escuta, na sua transa com a própria psicanálise, uma transa constante, Konstant-Fick. Se as nomeações, que vem da língua alemã de Freud, sofreu consequências da traição de traduzir Trieb para o inglês Instinct, porque será que a experiência da análise não invoca nomes da própria língua local por onde a psicanálise dá presente? Nomes dados pela zona erógena por onde a psicanálise excita psicanalistas em sua transmissão.

Se no presente a psicanálise se dá no Brasil, basta fazer estatística de congressos e dos estrangeiros que vem falar da transa deles com ela todos os anos, ainda há tempo para ficar servindo da traição? Com traduções atualíssimas, ditas direto do alemão que mantem o instinto esperando que isso pulsione um saber já sabido. Porque foi previamente lido pode se jogar no lugar do analista sem conflito? Amarga ilusão trocar o saber instintoido no lugar da experiência clínica, lugar que conta com um saber inventado pelo próprio sujeito, até então falado e que quer passar a falante. Digo o instintoido para nomear instituição instituída na base de um conceito biologizado como o instinto, ilusão positivista para garantiria uma saber que não precisaria passar pela experiência, já que a pulsão é da ordem de uma transmissão.

Experiência que modifica as formas, forminhas de estudo, torções de como se lê o texto freudiano; acho que é por ai que nasce um estilo. Lacan nas páginas iniciais de seu Escritos já convocava os bem aventurados a se colocarem um tanto de si nos deslocamentos da leitura de seu texto, se afetar pelo objeto a, aquele que há como causa de desejo. O dom de escuta viria de dar algo da própria carne. Pulsão pulsa para quem anima sangrar. Passagem do latim para o liquefaz, a pulsão invoca para aqueles que arriscam furar o próprio instrumento da fala, se fazer flauta.

Quando Eduardo Verano no seu livro; O Nascimento da clínica (xará de Foucault) propõe dar a psicanálise a linguagem de Goiânia, fazer ela falar pelo goianês, ocorre uma provocação de invocar a falar a própria língua do saber caipira. Fazer o sujeito em goianês cair e pirar, já que é da experiência do corpo falante que a clínica psicanalítica nasce, uma clínica que nasce de um melhor dito do que a denúncia de Foucault. Pois parte de que o saber está em quem fala para dizer do que sofre.

Há aqui um acolhimento, colhimento das palavras, que me tirou da ilusão de que psicanálise só falava alemão e francês.  Na verdade nem nas metrópoles cosmopolitas do país se precisa ir para se fazer cair e deslocara do sofrer para o falasser. Não é fugindo do país que se troca de pais. Fazer falar na língua materna em análise é cair pai e mãe, joga-los do balde mas mantendo a água. Um banho que permite que o sujeito pira nas surpresas da escuta que não encerra de pulsar, há um mais ainda dá própria conta. O instrumento de buracos surge, e o acolhimento não é de colocar os dedos onde não é convocado a tocar. Mas sim pela escuta que se toca, por um som que se liquefez o ser alguma coisa para alguém. Seria ocupar esse lugar que a pulsão invocante invade o analista e de repente o que era cê(é)errado se fez diversidade em cerrado. Um ser-errado é inventado, parido das invocações do desejo e acolhidos na análise.

Para melhor dizer sobro acolhimento e a pulsão invocante recorro as artes, que mesmo na traição da tradução, conseguem afetar qualquer falante na mais ordinária que seja sua língua de origem. Na peça Hamlet de Shakespeare, após o corte da encenação dos atores para a côrte da Dinamarca, por terem provocado mal-estar ao Rei, tio de Hamlet, vieram os músicos para esquecer o mal provocado pelo teatro. Mas para Hamlet a música veio para celebrar a descoberta da verdade, o desvelamento pelos efeitos da náusea do Rei ao ver o que seu sobrinho sabia. Hamlet se coloca a tocar a flauta com a chegada dos músicos. Todavia o Rei já desconfiado do saber de seu sobrinho, havia convidado dois “amigos” de Hamlet para investigar e arrancar as palavras da boca do príncipe, assim seria possível acusa-lo de louco e envia-lo para terras estrangeiras.

No momento musical, Rosencrantz e Guildenstern, procuram arrancar as falas de Hamlet, não conseguem conquistar a confiança do príncipe. Ainda mais por não toparem o pedido para que toquem com ele a flauta, para que se toquem e assim permitam receber o que ele tem a falar. Guildenstern se acusa, em falsa humildade, que não sabe tocar o instrumento; lhe falta perícia. Como resposta em cólera Hamlet revela:

HAMLET: Pois veja só que coisa mais insignificante você me considera! Em mim você quer tocar; pretende conhecer demais os meus registros; pensa poder dedilhar o coração do meu mistério. Se acha capaz de me fazer, da nota mais baixa ao topo da escala. Há muita música, uma voz excelente, neste pequeno instrumento, e você é incapaz de fazê-lo falar. Pelo sangue de Cristo!, acha que eu sou mais fácil de tocar do que uma flauta? Pode me chamar do instrumento que quiser – pode me dedilhar quanto quiser, que não vai me arrancar o menor som... (p.82)
           
          Para se ocupar do lugar do analista e fazer presente a abertura do inconsciente, tem que se tocar que há uma música em cada um que elege um analista para poder falar. Seja o instrumento que for, o analista deveria no mínimo se lambuzar, acolher; o torto e a fala errada. Se mancar em tropeços que permitem direcionar a dissonância. Para onde? Para onde a música levar. Isso não é fácil, por mais que parece que todos falam português, tem algo que faz cada sujeito falar uma outra língua, desconhecida até mesmo para o próprio falante; a lalação não faz parte da erudição. Nisso a analista tem que topar ser invadido, por uma libido, um investimento, uma escuta quase alucinante advinda da pulsão invocante, repito, isso não é fácil. Quem dera ser invadido em cada sessão e com todos que procuram analise.

Ainda mais no tempo pragmático de estudar, para ver onde tudo isso dá. (Aí, que vontade de ler e controlar o instrumento, nomear as notas, antes que elas me notem!) Ainda bem que carrego a preguiça que e ao mesmo tempo me atiça a esperar o tempo de escuta. Parece que o acorde só acorda para aqueles que estão de acordo a dedilhar com a própria carne, fazer buracos soarem o bendizer. Há o tempo ao tempo de ler, de colher e quem sabe nomear com a própria língua. Como benpoetizou Norton em um seminário na Fazenda Freudiana; “Quem quer atrair os cantos dos passarinhos não faz xó”.

Hélio Neiva* 
*Primeira oficina que realizei na Fazenda Freudiana de Goiânia, sobre a direção de formação de Eduardo Verano


BIBLIOGRAFIA:
DIDIER-WEILL, A. Nomes-do-pai. Ed. Contra Capa, 2015, Rio de Janeiro-RJ.
FREUD, S. Psicopatologia da vida cotidiana. In: Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. VI. Ed. Imago, edição standard brasileira, 1996: Rio de Janeiro-RJ.
ISRAEL, L. Mancar não é pecado. Ed. Escuta, 1994: São Paulo-SP
LACAN, J. O Seminário, livro 11: os quatros conceitos fundamentais da psicanálise. Ed. Zahar, 2009: Rio de Janeiro-RJ.
MICHEL, F. O Nascimento da Clínica. Ed. Forense Universitária, 2006. Rio de Janeiro-RJ
SHAKESPEARE, W. Hamlet. Ed. L&PM, 2014. Porto Alegre-RS.

VERANO, E. Psicanálise: o nascimento da clínica. Ed. Cânone Editorial; Fazenda Freudiana de Goiânia, 2006. Goiânia-GO.

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